Marcelo Mário de Melo




Marcelo Mário de Melo é jornalista, nasceu em Caruaru e veio para o Recife com 9 anos de idade. Escreve poemas, histórias infantis, minicontos,  textos de humor e notas críticas. Considera-se um artesão-aprendiz de literavida e escreve dentro do espírito de que o homem é um animal político e o político é um animal humano. Vê a elaboração poética como o olhar que mergulha e voa, o espirarco-íris  de portas abertas e andantes, sintetizando  o pensentir humano nos mergulhos introspectivos, nas interações sociais e nas viagens cósmicas. Poeta materialírico, entende que o exercício poético não se deve transformar numa nova modalidade de culto, pois já existem religiões demais no mundo. Vê a religião como a filha desnaturada da emoção e da poesia. Em ótica, em ética e em estética é adepto do realismo pus e seiva – o real tal qual viceja ou apodrece.
          Ingressou na base do Ginásio Pernambucano do PCB em 1961, aos 17 anos de idade, participou da fundação do PCBR em 1967-68, entrou na clandestinidade e foi preso político em Pernambuco de 9 de março de 1971 a 24 de abril de 1979, tendo participado de 5 greves de fome. Filiou-se ao PT em 1980, afastou-se em 1992 e se refiliou em 1996. Politicamente, identifica-se como plebeu, republicano, democrata-popular, cidadão de esquerda, socialista, pluralista e seguidor do Detran – sempre à esquerda, não ultrapasse pela direita. Defende a militância quadrilateral - contra a fome, o raquitismo político, a subnutrição cultural e a corrupção visceral.

Publicou:
 
Os Quatro Pés da Mesa Posta,  poesia, Edições Pirata, 1980; Manifesto Masculinista, humor, Ed. do Autor, 1993; Entre Teias e Tocaias/David Capistrano, perfil parlamentar, Assembléia Legislativa de Pernambuco, 2001; Perfil Parlamentar de Josué de Castro, Câmara dos Deputados, 2007;  Manifesto da Esquerda Vicejante Mais Textos e Poemas, Ed. do Autor,  2008.  Participa das antologias: Pernambuco Terra da Poesia, Instituto Maximiano Campos-Leituras, 2005; Estação Recife, Coletânea Poética 3, Prefeitura do Recife, 2004; Amigos do Cordel 1 – Movimentos Sociais, Prefeitura do Recife,  2008; Coletânea de Textos de Humor, Prefeitura do Recife, 2007. Escreve artigos para o Jornal do Commércio (Recife-PE), como colaborador.

* Nascido em 1944. Plebeu, republicano, democrata-popular, pluralista, cidadão de esquerda, socialista e seguidor do Detran: sempre à esquerda, não ultrapasse pela direita.

Fonte: enviado pelo autor







Pessoas como árvores
Marcelo Mário de Melo 
             A  todas as pessoas  que se mantêm  de esquerda e socialistas depois dos 60 anos




As árvores quando jovens
Se arriscam
Sob o tempo e o vento
Podendo se quebrar
E interromper suas vidas.

No desfio de viver e crescer
Na terra-mãe
Retesam as fibras
Resistem a impactos.

Com o passar do tempo
As árvores
Criam raízes fundas
E troncos grossos
Que sustentam a copa.

Decantando as décadas
O seu ofício é garantir
Novas sementes
alimento e sombra
Aos viajantes
Alargando os esforços juvenis.









O Brasil na velha rima
Marcelo Mário de Melo




Pedro Álvares Cabral.
Colônia de Portugal.
Império nacional
Pessoal
Regencial.
República de marechal.
Ato adicional.
Ato institucional.
Abertura gradual.
Anistia parcial.
Eleição colegial.
Constituinte congressual.
Presidência imperial.
Corrupção visceral.

Al al al
Al al al
Al al al.

É pau.
É pau.
É pau.

Liberal.
Liberal.
Liberal.

É só mudar a rima.










Quem o fará? 
Marcelo Mário de Melo

                                                                                                                               Purgar os erros.
Lembrar os mortos.
Fecundar os sonhos.
Festejar as vitórias.

Se não fizermos isto
Pela nossa causa
Quem o fará?









                                                          
                                                Desabafo
                                               Marcelo Mário de Melo 

                                                 Em memória de Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho (*)



Isto não é uma exposição acadêmica nem um requebro retórico: é um desabafo.
Talvez muitos preferissem a linguagem das estatísticas.
Esta a coluninha dos torturados.
Aqui os estropiados fisicamente com subdivisões para hematomas cicatrizes fraturas lesões e toda a nomenclatura da medicina torturante de urgência.
Aqui os mutilados mentalmente com sub-sessões reservadas a psicoses neuroses fobias úlceras gastrites insônias obsessões apatias.
Neste espaço reservado a Torturas/Mortes computem-se “Suicídios”,    “Mortos em Tiroteio”  e “Tentativas de Fuga”.
E nesta linha verde-acinzentada escreva-se com sangue: Distensão/Desaparecidos.
Poderia preencher um gráfico que satisfaria ao esteticismo seco do mais exigente burocrata. Tão imponente e preciso aos espíritos formalistas como as tabelas do imposto de renda e os projetos de reforma administrativa.
Mas os que precisassem disso para avalizar nossas denúncias jamais seriam convencidos de nada porque há muito estariam vacinados contra a verdade ou formados nas filas do lado de lá.
Quem não puder ser convencido hoje pelos exemplos esparsos indícios ruídos abafados da máquina de triturar presos políticos abrirá certamente os olhos só se os abrir quando as verdades vivas de agora passarem à respeitabilidade morta dos museus de amanhã ou se a máquina começar a moer a sua própria carne os próximos.
Nós os presos políticos do Brasil atual nos dirigimos àqueles que sabem pressentir a cascavel pelo sibilo e se dispõem a renegar o seu veneno.
Mesmo que apenas com o grito de alerta ou o gesto mudo repulsa de quem se associa à dor.


 (*) Escrito em outubro de 1975, em cela do Esquadrão Dias Cardoso, Bongi, Recife-PE, no intervalo entre uma greve de fome e outra, depois dos assassinatos sob tortura, em São Paulo, do jornalista Wladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho.







                                                          
                                                            

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