Eduardo Martins



José Eduardo Martins de Barros Melo nasceu em Recife em 1962. Poeta e ensaísta, professor de literatura da UFRO – Universidade Federal de Rondônia.  Mestre em Teoria da Literatura pela UNESP - Universidade Estadual de São Paulo. Foi um dos coordenadores do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco (MEIPE), fazendo parte junto com Francisco Espinhara, Fátima Ferreira, Héctor Pellizzi, Cida Pedrosa e Raimundo de Moraes do grupo inicial que o articulou e são reconhecidos como aglutinadores do Movimento. Na década de 80, participou ativamente da vida literária pernambucana, sendo um dos disseminadores dos recitais de rua e da discussão por políticas de editoração, divulgação e venda de livros. Os lançamentos dos seus livros se transformavam em acontecimentos poéticos e de recitação. Conseguia aglutinar a cena literária da época, ora na livraria-sebo Reler, ora na livraria Síntese, locais dos lançamentos. Foi um dos organizadores do Seminário de Literatura Pernambucana Contemporânea que acontecia anualmente na Fafire (Faculdade de Filosofia do Recife)  e que durante dois dias pautava a discussão sobre a literatura viva de Pernambuco. Ainda na Fafire organizou a exposição de pôster-poema que teve boa repercussão nos meios literários. Em 1987 Eduardo passou a residir no estado de Rondônia, mas mantém-se antenado com a cena cultural de Recife através da internet. Atualmente está estudando a obra do poeta Alberto da Cunha Melo, que será tema da sua dissertação de doutorado e organiza o seu livro de poesia A Palavra Falta.

Livros:
NU - Edição do autor, 1981;
Restos do Fim
 (em parceria com Cida pedrosa) - Edição independente,1982;
Batalha pelo poema, (com Francisco Espinhara e Pedro do Amaral) - Edição independente, 1984. 
Eczema no Lírico
 - Edição independente, 1985;
Procissão da palavra - Edição independente, 1986;
O Lado Aberto – Edufro/Rodônia, 2004;
Bandeira, uma poética de múltiplos espaços. Edufro/Rondônia, 2003;
Alberto da Cunha Melo: A palavra solidária - Edição do autor, 2008.
Participação em coletâneas: 
Poesia Viva do Recife (organizada por Juareiz Correya) – CEPE, 1996;
Marginal Recife: coletânea poética III (organizada por Cida Pedrosa, Miró e Valmir Jordão) – Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2004;
Pernambuco, terra da poesia (organizada por Antônio Campos e Cláudia Cordeiro) – IMC/Escrituras, 2005;
Iluminuras, 2006.
CD (Coletânea de Poemas): 
Plataforma para a poesia, Vol. I (organizada por Cláudia Cordeiro), 2004.


Fonte: Interpoética





 O vaso
Eduardo Martins




O poeta escreve pra dentro
Do vaso que não tem flora
Nem fora que não tem flores
Como esta estrofe
Como este vaso que não se quebra
Que não seqüela palavra
Cacos da cola flora de chão
Cerâmica verde
O poeta escreve por dentro
Argamando a massa
Futuro vaso que há
Futuro vaso de ar
Que se espalha espelho
De outro vaso nobre.





O lado aberto
Eduardo Martins




O lado aberto te esconde
Em tua parte palavra
Neste lado quase ponte
Que se estende para o nada
Que quase mundo some
Do outro lado da fala
Para espelhar o indizível
Em outro espelho muralha
Em teu silêncio-livro
O lado aberto se espalha
Em lados de mil ladrilhos
De sítios de mudas caras
De seu espaço infinito
Em desenho que se cala
O lado aberto te esconde
Em lado que nunca fala.





A palavra zero
Eduardo Martins




Todo redondo do mundo
Só cabe de ser profundo
No fundo palavra zero
Porque em seu centro dorme
Esta oração que comove
E se planta de desertos
No vazio que renova
Outro mundo que, se forma,
É centro palavra zero
Todo redondo do mundo
No centro de outro fundo
É fundo quase deserto





 O ceramista
Eduardo Martins




Uma peça quando outra
Sempre diz mais que de atrito
E se une lado a nova
Pelas mãos do ceramista
Peça que outro sermão
De ser discurso de riscos
Ou de outro corpo encosta
Tanto mais cor do que brilhe
Ser invento em solo firme
Ou cerâmica de novo
Colada quase sentido
De cacos de piso posto
Pois rejunte há de ser risco
Que se gruda pelo outro
Ou que outro há de atrito
Que atrito não se ouve.

Oceanografia do rosto
Transparente, o rosto
Também é água
Fora de seus domínios
Tenta ser olho apenas
Para evadir-se
Como parte de rio
Em seu templo sereno
As ondas são inimigas
Deste mar equilibrado
Como concha, ainda
Revela-se o rosto
Pacífico e atlântico
Índico, em seu idílio
De remontar outro mar
Ártico, em desejo
De querer-se íntimo
Glacial, Antártico,
Em desejo de se revelar.






Outras palavras de ausência
Eduardo Martins





Não sei quais palavras me ausentam
Nem aquelas que me trazem
Mas outras palavras me tentam
As que de ausência se abrem
São palavras quase mortas
Ou quase nada valem
Se duplicam em distância
E de estradas nada sabem
Mas estas palavras me tentam
Outras que de outros vales
Repetem-se como sombras
Ou de ausência se fazem






Palavras de ontem
Eduardo Martins




Quanto de poema cabe
Nesta sábado de tarde abandonada?
Nenhum ruído, nenhum apito
A rua da Aurora parada
E estas palavras de ontem
Que não querem vir.
Amanhã, se alguém perguntar,
Nada saberei contar
E este poema estará encerrado
Sem nenhuma emoção
Com as palavras
Que não puderam vir.





Espelho
Eduardo Martins




sempre pensei que espelho fosse o outro
bisbilhotando meus olhos e meu espírito
para falar como se fosse eu em desagravo
agora sei que não é, sei que é meu próprio corpo
xeretando este aqui e pedindo a Deus
que não se deixe perder entre ruas, vielas, calçadas...
espelho não são os outros
ou este desenho que segue
as águas mansas de Narciso
são nossas manias de sermos mais que o céu
e além das almas




Geografia do mal
Eduardo Martins




Recife, diluidora
Dos meus sonhos,
Tens água suficiente
Para afogar-me
Tuas lâminas de vento
Ensaiam o corte
De minhas pontes
Respiratórias
Em ti sou ilha
Cercado de males
Por todos os lados







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