Carlos Maia



Carlos Maia Assunção nasceu em Recife, Pernambuco, em 1959. Poeta e produtor cultural. Foi um dos coordenadores do "Canta Boa Vista - 2 e 3, movimento poético-musical que obteve excelente repercussão na Rua Sete de Setembro, no Centro do Recife, e teve sua terceira edição realizada em 2008. Carlos Maia é conhecido no cenário cultural da cidade como um dos que fazem a “poesia recitada nas ruas”. Começou a divulgar seu trabalho através das Edições Pirata, editora que abriu espaço para publicação dos escritores pernambucanos, de forma plural e democrática na década de 1980, inovando no visual (formato das suas publicações) e nos lançamentos coletivos que uniam novos nomes e nomes já consagrados. Poeta atuante, participa ativamente dos encontros poético e recitais da capital pernambucana.

Livros:
Cestos e Balaios, 1981;
Lamentos de uma Estrela, 1999.
Participação em coletânea:
Marginal Recife: coletânea poética IV (organizada por Miró e Valmir Jordão) – Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2005.

Fonte: Interpoética



                              
                                         Para a minha indiazinha linda Kátia Rossana


Olhar nos teus olhos
É como passear
No paraíso,
Pousar as minhas
Coxas entre
As tuas coxas
É como chegar
Ao céu,
Deslizar os meus dedos
Nas tuas costas
É melhor que
Mil orgasmos,
Passear a minha língua
Nos teus lábios
É melhor que
Amor de mãe!





Menina linda
Do raio de sol
Pega a canção
Da minha íris
E põe no teu
rouxinol andarilho.
Menina linda
Do raio de sol
E se o rouxinol
Tiver se perdido
Em meio aos descaminhos
Da vida, põe a minha
Canção nas pétalas
Do Girassol.
E se o girassol
Não puder levar
A minha canção
Ao Pôr-do-Sol.
Leva a minha canção
Às mãos pequeninas
De um niño,
Que aí eu terei
A segurança
Que ele não perderá
O caminho.




               
                       Para a minha indiazinha linda Kátia Rossana


Se há um paraíso
Não pode ser
Melhor do que isso aqui,
De passear meus olhos
No brilho dos teus
E ver o teu sorriso.
O teu colo de jasmim,
O teu navegar
Pelas estrelas,
O teu passear
Em mim.








Ele foi aonde
Eu não pude alcançar...
E escutou sons inefáveis,
Visões de anjos
E querubins...
Ele foi muito longe,
Meu bebê...
Flecha lançada do
Meu coração
Minha vida
Minha luz
Voa...
Voa alto Luquinha,
Voa sem medo...
Que um dia
Eu quero
Poder te acompanhar...






Havia noites em que
A porta ficava aberta,
E podíamos vislumbrar
Na penumbra
A cidade mergulhada na neblina.
Havia noites em que
A porta aberta
Saíamos na chuva
Pelas ladeiras de Olinda.
Havia noites
Em que a tristeza
Era uma mera
Lembrança,
Perdida
Nos confins da infância,
Entre mangueiras
E atiradeiras.
Havia noites
Em que pairava
Como uma gaivota
A eternidade do momento.




                                
                                       
                                            A Francisco Espinhara


A vida vencerá, Chico,
Tantas vezes
Desejando a morte
Tantas vezes sem sentido
Desbragadamente
Desprendido de tudo,
Pulando da ponte,
Dormindo com as putas,
Se afogando na maconha
E no álcool
Para mitigar um pouco
A dor
De não compreender
Tanta miséria
E desigualdade
Dançando ao som
Do maracatu em Rainha...
A vida vencerá, Chico,
A vida sempre vencerá,
Mesmo que um dia morramos.





                           
                                   

                                              A Erickson Luna


Erickson, Erickson...
Como chegar agora
No mercado da Boa Vista
E não haver mais a possibilidade
da tua presença...
Ou na segunda sem lei
No Burburinho
Ou nas ruas de Recife
nas noitadas intermináveis...
Ouço o canto do Capibaribe,
Um canto
Triste e silente...
Não ouvirei mais
a tua lucidez, amigo,
Embriagado pela vida
E agora
A única coisa que desejo
é a morte
Para poder aplacar
a minha dor
Mas não tenho pressa...







Deixa fluir esse fogo, amor.
Vem,
Abre tuas asas, gaivota
E me dá um bloco branco
Pra eu reinventar
A vida.








É noite...
E as lembranças
De um dia de verão
Sangram do meu ventre.
Pôr-do-sol no Capibaribe
Tarde quente e cristalina
De um dia de verão,
A corroer saudades...
A corroer lembranças,
A corroer meus dias.








E aqui estamos reunidos
Nesta noite
Sem portais,
Os umbrais do tempo ecoam
No mais longínquo do nosso ser.







Eis tempo, eis templo,
Eu diante de ti
A minha alma acaricia
A luz do espectro
Desta vela,
E ela lança um caleidoscópio
De cores
Em nossas almas;
Vem, vem comigo
Nesta estrada de terra
Sentir a poeira varrer as nossas almas;
Vem andar pelos trigais
Qual Van Gogh em noite
Raio de luz,
E neste templo dos iniciados
O que se escuta
É o crepitar da chama,
 É o crepitar da chama...






De onde emerges,
Tempo,
Nos subterrâneos de minha mente?







Entre...
Veja as espirais de fumaça
Invadindo castelos medievais...
De onde emerges, tempo?
De que dourado
Teceste
       Os fios
                Da memória?
Em que nebulosa
              Se esconde
Tamanho medo?
As garras do girassol
     Explodirão esta bolha!
           Olha...
     A menina desce as ladeiras
           De Olinda,
     Sentindo subir nos cabelos
           O vento das recordações
                                 Das ruínas...







Terra,
Areia cintilante
Na relva da colina
Recortada num céu sem nuvens...
Árvores,
Raízes para o céu
Galhos como mãos
Pedindo clemência a Deus.
Quem me dera,
Chovessem estrelas
Das minhas mãos...






Ainda hei de fazer uma canção
De amor pra ti Recife,
Recife, dos rios dourados pelas
Luzes da noite.
Recife, dos flamboyants e das acácias.
Recife, das auroras em Boa Viagem
Após porres homéricos na Rua da Moeda.
Recife, das putas adolescentes da Cons. Aguiar.
Recife, dos pedintes nos sinais
Recife, dos pôr-dos-sóis no Capibaribe.
Recife, de tanta miséria
Recife, de tanto prazer
Recife, das pontes inumeráveis
Recife, dos poetas espoliados.






Já fui andorinha, pardal,
Falcão, gaivota e águia.
Já fui cipreste no sul
Do Líbano.
Coqueiro
Em Arraial-da-Ajuda,
Hoje eu sou um homem
Voando em espantosa velocidade
Pelos confins do Universo
Sou um pássaro,
Sou um homem,
Sou tantos e ao mesmo tempo
Nenhum.
Em que banco
De ônibus
Ficou perdida








5 comentários:

  1. Cecília, meu muitíssimo obrigado pela divulgação!!!

    Grande Abraço!

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  2. Cecília, meu muitíssimo obrigado pela divulgação!!!

    Grande Abraço!

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  3. Amei suas poesias. Recebi hoje um poema entitulado "Dentro e fora" que agora acredito ser um pseudônimo seu, pois recebi como sendo o autor Luan Hassan, fui fazer uma busca no google e cheguei a você e daí a várias outras poesias suas. Grande abraço.

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  4. Amo o poema dentro e fora. Não perco a oportunidade de declama-lo.Fico curiosa e gostaria de entender o porquê do pseudônimo, Luan Jessan.

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